Talvez o engano, essa estratégia da narrativa para que a
atenção se lhe cole, esteja contido sobretudo no título: «Tabu». A lei que que não pode ser transgredida. Estamos no Japão, final do século XIX, os clãs (ou seitas) de
samurais lutam entre si para que a honra e a lei não sejam ultrapassadas. Entre
os grupos de instrução castrense a homossexualidade não é uma lei que não deve
ser transposta, ou seja, a homossexualidade não é tabu.
No entanto, quando um muito jovem instruendo é integrado no
grupo, belo e andrógeno, a hierarquia militar é perturbada. Pelo amor, talvez antes,
pelo desejo do amor. O engano e a traição não podem ser tabu. Passam a ser lei.
Nagisa Oshima vai levando a relação de poder e sedução entre
os militares por caminhos sinceros ao som da música de Ryuichi Sakamoto, até
que o espectador deixa de poder olhar os rostos dos executores e as figuras
passam a sombras que teimam em impor a sua vontade através da lei da lâmina.
Mas o código tem de ser imposto, cumprido. Quem o ultrapassa será
executado.
Nagisa Oshima coloca o desejo reprimido nessa equação difícil
de um modo fundamental, trazendo o
espectador até à cena final, esteticamente dramática, quase onírica, onde uma
pequena cerejeira em flor é violentamente decapitada. A poesia é assim.
jef, junho 2018
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