Olivier Rolin é um escritor que dificilmente se liberta da
vocação de viajante, de solitário, de literato. Ele constrói-nos o mundo
através desse romantismo extremo do fim da viagem que é o desejo de regressar a
casa. E partir de novo. Em Rolin, os livros são o garante do retorno, quantas
vezes também de um abandono triste, tão distante do dia de partida. Acima de
tudo, já tão diferente.
Mas a novela «Veracruz» aproxima-se de um outro romantismo, o
do amor concreto, certamente vital, certamente funesto porque fugaz. De certo
modo, invulgar no trabalho do escritor francês.
1990, Veracruz, México. O bar «El Ideal» a lembrar o
«Tropicana» de Havana e «Nighthawks» de Hopper. O ciclo de conferências «Proust
irrita-me». Na primeira das 90 páginas parece que vamos correr atrás daquele frenesim
estático à Vila-Matas. Mas não.
Avizinha-se uma tempestade e, numa sala de certa casa
senhorial, em silêncio, Inácio, Miller, El Griego e Susana, medem rigorosamente
os movimentos uns dos outros enquanto organizam o contrabando de charutos
desfazendo a velha biblioteca. Odeiam-se ou amam-se ou já se amaram. «Se as
minhas pálpebras lábios fossem» Inácio lembra os sonetos de Francisco de
Quevedo. O século de ouro. Uma noite de tormenta.
A narrativa chega anónima às suas mãos e ele aguarda
desesperado e bêbado a entrada da voluptuosa liberdade de Dariana. Pouco mais
ele saberá dela após a partida instantânea. A cronologia investigada parece ser
anacrónica. A tempestade não condiz. Dariana também não.
Muito mais nós ficamos a saber desse amor inconcluso.
Olivier Rolin deixa-nos suspensos e a leitura renovada de velhos textos contém
a parábola (ou paranóia) inconstante da diferença. Um erro na tradução pode conter a explicação de um eterno amor findo.
Viva JEF,
ResponderEliminartambém gostei bastante deste livro, e já estava rendido ao autor depois do fabuloso "o meteorologista", este verdadeiramente na fronteira entre o romancista e o viajante.
abraço
Miguel Henriques
Olá Miguel! Lê também «O Caçador de Leões» ou «Baku». Tem uma crítica aqui no blogue sobre o «Meteorologista». Abraço jef
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