Este será o último disco de Diana Krall tocado pela
sensibilidade, digamos “cinematográfica”, do produtor Tommy LiPuma, que morreu
em Março de 2017. Quase desde o início da carreira deste jazz de raiz tradicional,
suave e precioso, definido, rigoroso e easy
listening, este homem esboçou a estrutura ambiental de uma das cantoras-pianistas
que melhor reconheceu a vertente popular da qualidade musical (excepto, na
minha modesta opinião, a sua delicodoce e lírica incursão no difícil mundo da bossa
nova). Para Diana Krall (e Tommy LiPuma) a complicada simplicidade e perfeição dos
arranjos de «All for You» (Impulse, 1996), acompanhados desses eternos e
mágicos amigos John Clayton ou Christian McBride (baixo), Russell Malone (guitarra),
prolongam-se até este álbum, angariando ainda a mestria de Marc Ribot
(guitarra) ou o violino “fiddle” de Stuart Duncan.
Claro que aqui tenho versões dos clássicos: «Autumn In NewYork» (Vernon Duke), «How Deep Is The Ocean» (Irving Berlin), «I Wished On The Moon» (Dorothy Parker & Ralph Rainger) ou «Singing In The Rain» (Arthur Freed & Nacio Herb Brown).
Claro que encontro ainda a inusitada canção
vinda do manancial estético country/folk de Bob Dylan «this Dream Of You».
Mas acima de todas as canções, inclui a contenção melancólica
que eu não esqueço na voz de Peggy Lee (1948), Nina Simone (1958) ou k.d. lang
(1997): «Don’t Smoke In Bed» (Willard Robison). Diana Krall baixa o tom até ao
contralto rouco, quase destoando da sua mais natural tessitura, para dar a gravidade
triste de despedida e entrega a Alan Broadbent o piano para a acompanhar numa
espécie de marcha fúnebre, ao mesmo tempo leve e lenta.
jef, fevereiro 2020
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