sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Sobre o disco «This Dream of You» de Diana Krall, Verve / Universal, 2020

 

 












Este será o último disco de Diana Krall tocado pela sensibilidade, digamos “cinematográfica”, do produtor Tommy LiPuma, que morreu em Março de 2017. Quase desde o início da carreira deste jazz de raiz tradicional, suave e precioso, definido, rigoroso e easy listening, este homem esboçou a estrutura ambiental de uma das cantoras-pianistas que melhor reconheceu a vertente popular da qualidade musical (excepto, na minha modesta opinião, a sua delicodoce e lírica incursão no difícil mundo da bossa nova). Para Diana Krall (e Tommy LiPuma) a complicada simplicidade e perfeição dos arranjos de «All for You» (Impulse, 1996), acompanhados desses eternos e mágicos amigos John Clayton ou Christian McBride (baixo), Russell Malone (guitarra), prolongam-se até este álbum, angariando ainda a mestria de Marc Ribot (guitarra) ou o violino “fiddle” de Stuart Duncan.

Claro que aqui tenho versões dos clássicos: «Autumn In NewYork» (Vernon Duke), «How Deep Is The Ocean» (Irving Berlin), «I Wished On The Moon» (Dorothy Parker & Ralph Rainger) ou «Singing In The Rain» (Arthur Freed & Nacio Herb Brown). 

Claro que encontro ainda a inusitada canção vinda do manancial estético country/folk de Bob Dylan «this Dream Of You».

Mas acima de todas as canções, inclui a contenção melancólica que eu não esqueço na voz de Peggy Lee (1948), Nina Simone (1958) ou k.d. lang (1997): «Don’t Smoke In Bed» (Willard Robison). Diana Krall baixa o tom até ao contralto rouco, quase destoando da sua mais natural tessitura, para dar a gravidade triste de despedida e entrega a Alan Broadbent o piano para a acompanhar numa espécie de marcha fúnebre, ao mesmo tempo leve e lenta.


jef, fevereiro 2020

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