quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Sobre o filme «Trono de Sangue» de de Akira Kurosawa, 1957


 





















E as árvores afinal moveram-se…

Só vemos o que pretendemos ver ou desejamos profundamente acreditar. No resto, seremos cegos. Lady Macbeth-Asaji (Isuzu Yamada) apenas cumpre a vocação e entrega a espada ao desejo secreto de Macbeth-Taketoki Washizu (Toshiro Mifune), explica-lhe como as premonições mágicas da floresta podem chegar até a realidade labiríntica do sangue. A maior fortaleza será tomada e, de seguida, a cabeça do rival Banquo-Hoshiari Miki (Minoru Chiski) é entregue. O mensageiro é morto. A floresta prepara-se para seguir o seu curso. A água não parece lavar o sangue das mãos de Asaji.

Akira Korusawa despe a história de todo o supérfluo e o palco está deserto. O tecido do quimono de Asaji sussurrará na ausência de luz preparando o espectador para o início do fim. No entanto, é na luminosidade brutal do nevoeiro que a floresta tece a sua teia de aracnídeo. Numa prenunciadora e longa cena, os cavalos dos guerreiros amigos Taketoki e Miki perdem-se no nevoeiro cego. E nos presságios dos espíritos. A grande fortaleza surge despida de vida como o coro inicial havia já cantado. Os mensageiros avisam do resultado das batalhas. As árvores avançam e as setas não precisarão de atravessar a muralha. O palco vai permanecer deserto.

Um filme absolutamente puro.


jef, outubro 2020

«Trono de Sangue» (Kumonosu-Jô) de de Akira Kurosawa. Com Toshiro Mifune, Isuzu Yamada, Minoru Chiski, Takamaru Sasaki, Takashi Shimura, Akira Kubo, Yoichi Tachikawa, Chieko Naniwa. Argumento: Shinobu Hashimoto, Ryuzo Kikushima, Hideo Oguni, Akira Kurosawa, segundo «Macbeth» de William Shakespeare. Director de Fotografia (35mm, 1,33): Asakazu Nakai. Direcção Artística: Yoshiro Muraki, Kohei Ezaki. Música: Masaru Sato. Montagem: Akira Kurosawa. Som: Fumio Yanoguchi. Produção: Shojiro Motoki, Akira Kurosawa – Toho. Japão, 1957, P/B, 110 min. Nimas (20-10-2020)****.

 

 

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