E
as árvores afinal moveram-se…
Só
vemos o que pretendemos ver ou desejamos profundamente acreditar. No resto,
seremos cegos. Lady Macbeth-Asaji (Isuzu Yamada) apenas cumpre a vocação e entrega
a espada ao desejo secreto de Macbeth-Taketoki Washizu (Toshiro Mifune), explica-lhe
como as premonições mágicas da floresta podem chegar até a realidade labiríntica
do sangue. A maior fortaleza será tomada e, de seguida, a cabeça do rival
Banquo-Hoshiari Miki (Minoru Chiski) é entregue. O mensageiro é
morto. A floresta prepara-se para seguir o seu curso. A água não parece lavar o
sangue das mãos de Asaji.
Akira Korusawa despe a história de todo o supérfluo e o palco está deserto. O tecido do quimono de Asaji sussurrará na ausência de luz preparando o espectador para o início do fim. No entanto, é na luminosidade brutal do nevoeiro que a floresta tece a sua teia de aracnídeo. Numa prenunciadora e longa cena, os cavalos dos guerreiros amigos Taketoki e Miki perdem-se no nevoeiro cego. E nos presságios dos espíritos. A grande fortaleza surge despida de vida como o coro inicial havia já cantado. Os mensageiros avisam do resultado das batalhas. As árvores avançam e as setas não precisarão de atravessar a muralha. O palco vai permanecer deserto.
Um
filme absolutamente puro.
jef,
outubro 2020
«Trono
de Sangue» (Kumonosu-Jô) de de Akira Kurosawa. Com Toshiro Mifune, Isuzu
Yamada, Minoru Chiski, Takamaru Sasaki, Takashi Shimura, Akira Kubo, Yoichi
Tachikawa, Chieko Naniwa. Argumento: Shinobu Hashimoto, Ryuzo Kikushima, Hideo
Oguni, Akira Kurosawa, segundo «Macbeth» de William Shakespeare. Director de
Fotografia (35mm, 1,33): Asakazu Nakai. Direcção Artística: Yoshiro Muraki,
Kohei Ezaki. Música: Masaru Sato. Montagem: Akira Kurosawa. Som: Fumio
Yanoguchi. Produção: Shojiro Motoki, Akira Kurosawa – Toho. Japão, 1957, P/B,
110 min. Nimas (20-10-2020)****.
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