segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Sobre o livro «Um Homem no Jardim Zoológico»» de David Garnett. Colecção Miniatura n.º 91, Livros do Brasil, 1958 (1924). Ilustração de capa de Bernardo Marques.


 









Não queiramos que esta novela nos faça lembrar os belíssimos livros «Porquê Olhar os Animais?» de John Berger (Antígona, 2020) ou «Alguns Humanos» de Gustavo Pacheco (Tinta da China, 2018). Nem sequer essa antológica aula prática de antropologia satírica de Alberto Pimenta (1977).

David Garnett (1892-1981) fazia parte desse grupo de artistas inclassificáveis apelidado “Bloomsbury”, de onde se destacava Virginia Woolf, e de que se dizia: «They lived in squares, painted in circles and loved in triangles».

Na realidade, este livro é uma espécie de comédia, uma história de amor com happy end mas com um unhappy beginning. John Cromartie e Josephine Lackett estão noivos e são particularmente orgulhosos e determinados nas suas proposições matrimoniais. John não admite ceder perante a família de Josephine, e esta não compreende a apressada fúria do seu noivo. Andam a passear entre as jaulas da secção dos canídeos do Jardim Zoológico de Londres e desentendem-se irremediavelmente. Logo nas primeiras páginas. Às segundas, por teimosia e despudor, numa espécie de birra infantil, ele escreve à sociedade directora da instituição zoológica que logo aceita a viva oferta para a exibição de um espécimen de Homo sapiens de tão destinto recorte. Retiram o gibão, e John instala-se definitivamente entre o orangotango e o chimpanzé. O caso torna-se um sucesso, as entradas no jardim multiplicam-se, e dar-se-ia por findo se John e Josephine não continuassem tão apaixonados…

Pode não ser obra-prima, pode até conter traços de certa sobranceria intelectual, mas pensar em Londres, assim descrita, assim publicada, em 1924, dá que pensar. Uma bela tarde de leitura em torno da liberdade literária!


jef, outubro 2020

 

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