segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Sobre o filme «Close-Up» de Abbas Kiarostami, 1990







Um dos melhores filmes do mundo.

Melhor. Um filme que contém o mundo inteiro, todo o afecto, o perdão e o modo do cinema do universo. Um filme dificílimo de criar!

Um filme só edificado pelo génio e a imaginação prodigiosa de Abbas Kiarostami. A realidade está lá mas construída através da sua própria verosimilhança.

O realizador filma-se a si próprio entrevistando um preso acusado de fraude e tentativa de fraude. Ele faz mais. Pede ao juiz para filmar o julgamento. Pede que antecipem o julgamento por razões práticas das filmagens. (O juiz não se lembra do caso, do nome do acusado, não lhe dá importância.) Junta ainda todos os actores-reais-personagens e coloca-os a representar o que já viveram nos locais por que já passaram, reconstruindo a realidade da sua memória.

Por fim, pede aos falsos-reais-burlados e ao real-burlão-falso para se reunirem, conferindo-lhe o perdão. Beijam-se, ele chora, alguém lhe limpa as lágrimas da cara e diz que ele terá um futuro de grandes realizações. Mas as flores não devem sem amarelas. A lata cilíndrica de dum-dum rola rua abaixo. O taxista, enquanto espera o jornalista, recolhe do lixo rosas vermelhas. O jornalista corre à procura de um gravador. A motocicleta sai do plano programado. O microfone de lapela do motociclista-realizador começa a falhar.

E A humanidade arrependida é, finalmente, absolvida.


jef, outubro 2020

«Close-Up» de Abbas Kiarostami. Com Hossain Sabzian, Mohsen Makhmalbaf, Abolfazl Ahankhah, Mehrdad Ahankhah, Monoochehr Ahankhah, Mahrokh Ahankhah, Nayer Mohseni Zonoozi, Ahmad Reza Moayed Mohseni, Hossain Farazmand, Hooshang Shamaei, Mohammad Ali Barrati, Davood Goodarzi, Haj Ali Reza Ahmadi, Nayer Mohseni Zonoozi, Hassan Komaili, Davood Mohabbat, Abbas Kiarostami. Argumento: Abbas Kiarostami. Fotografia: Ali Reza Zarrindast. Irão, 1990, Cor, 93 min.

 

 

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