quarta-feira, 11 de abril de 2018

Sobre o filme «Custódia Partilhada» de Xavier Legrand, 2017
















Neste filme, Xavier Legrand coloca o espectador num estado de permanente observação, análise e julgamento. Ou seja, em vigília. A partir de uma sessão inicial, longa e meticulosa, vamos tomando o pulso a uma situação difícil de gerir ou de, sobre ela, sentenciar. Tentamos chegar a uma conclusão justa ou apenas moral. Estamos na berlinda. Seguimos os trâmites da custódia partilhada de Julien (Thomas Gioria), 11 anos, pelos dois pais divorciados, Miriam (Léa Drucker) e Antoine (Denis Ménochet). Uma sucessão de cenas estudadas ao pormenor para que penetremos nesse incómodo terrível através dos discursos e dos olhares da juíza e das advogadas de defesa. Os pais permanecem quase esfíngicos.

Depois, a causa passa a ser a de Julien (e a de Joséphine - Mathilde Auneveux -, já com 18 anos, a filha). O interior de Julien é verdadeiro e angustiado, o seu exterior não é conciliador mas cumpridor da estratégia judicial e familiar. Julien mente e o espectador estranha-o e acusa-o. As suas lágrimas são contidas, os seus actos nervosos.

A vigília do espectador vai ficando numa angustiada perplexidade acompanhando o percurso da «ex-familia» de Julien, cujas lágrimas e actos se soltarão apenas nas cenas finais, esclarecedoras e brutais, violentas e policiais.

O filme é de certo modo «hiper-realista» e Xavier Legrand dá-lhe um carácter de libelo político urgente. No entanto, a previsibilidade do seu fim deixa a vigília justa do espectador mais perto de um redutor filme de suspense (excelente suspense, diga-se) do que de um manifesto social que parecia estar a desenrolar-se. 

Fico a pensar nos belos filmes dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne.

jef, abril 2018.

«Custódia Partilhada» (Jusqu'à la Garde) de Xavier Legrand. Com Léa Drucker, Denis Ménochet, Thomas Gioria, Mathilde Auneveux, Mathieu Saikaly, Florence Janas, Saadia Bentaïeb, Coralie Russier, Martine Vandeville, Jean-Marie Winling. França, 2017, Cores, 93 min.

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