Neste filme, Xavier Legrand coloca o espectador num estado de
permanente observação, análise e julgamento. Ou seja, em vigília. A partir de
uma sessão inicial, longa e meticulosa, vamos tomando o pulso a uma situação
difícil de gerir ou de, sobre ela, sentenciar. Tentamos chegar a uma conclusão justa ou
apenas moral. Estamos na berlinda. Seguimos os trâmites da custódia partilhada de
Julien (Thomas Gioria), 11 anos, pelos dois pais divorciados, Miriam (Léa
Drucker) e Antoine (Denis Ménochet). Uma sucessão de cenas estudadas ao
pormenor para que penetremos nesse incómodo terrível através dos discursos e dos
olhares da juíza e das advogadas de defesa. Os pais permanecem quase esfíngicos.
Depois, a causa passa a ser a de Julien (e a de Joséphine - Mathilde
Auneveux -, já com 18 anos, a filha). O interior de Julien é verdadeiro e
angustiado, o seu exterior não é conciliador mas cumpridor da estratégia
judicial e familiar. Julien mente e o espectador estranha-o e acusa-o. As suas
lágrimas são contidas, os seus actos nervosos.
A vigília do espectador vai ficando numa angustiada
perplexidade acompanhando o percurso da «ex-familia» de Julien, cujas lágrimas
e actos se soltarão apenas nas cenas finais, esclarecedoras e brutais, violentas
e policiais.
O filme é de certo modo «hiper-realista» e Xavier Legrand dá-lhe um carácter de libelo político urgente. No entanto, a previsibilidade
do seu fim deixa a vigília justa do espectador mais perto de um redutor
filme de suspense (excelente suspense, diga-se) do que de um manifesto social que parecia estar a desenrolar-se.
Fico a pensar nos belos filmes dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne.
jef, abril 2018.
«Custódia Partilhada» (Jusqu'à la Garde) de Xavier Legrand.
Com Léa Drucker, Denis Ménochet, Thomas Gioria, Mathilde Auneveux, Mathieu
Saikaly, Florence Janas, Saadia Bentaïeb, Coralie Russier, Martine Vandeville,
Jean-Marie Winling. França, 2017, Cores, 93 min.
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