quinta-feira, 19 de abril de 2018

Sobre o filme «Taxi» de Jafar Panahi, 2015














Esta é uma das comédias mais inteligentes do mundo.
Em Teerão, Irão, século XXI, um taxi mais ou menos comunitário segue as ruas e os passageiros vão entrando aleatoriamente. Ou talvez nem tanto. Neste filme não se sabe onde pára a realidade e começa a realidade encenada. Mas o teatro vence sempre como símbolo máximo da verdade.

O taxista é o próprio realizador Jafar Panahi, preso político, impedido de sair do Irão e de fazer cinema. Mas o taxista sorri! Sorri sempre e conta como são as coisas no país e no mundo. Conta tudo com o humor que faz realçar os factos mais importantes da vida em comum.

Um homem defende a pena de morte para os ladrões de carros dos pobres. A professora defende a educação e a reintegração.

O pequeno homem aluga clandestinamente filmes ocidentais, descobre o realizador, desmascara o cenário para o espectador. Com o realizador a seu lado vende muito mais dvd.

As duas senhoras têm de devolver os dois peixinhos vermelhos ao lago artificial até ao meio-dia. Impreterivelmente. O aquário escaqueira-se.

O motociclista sinistrado apanha boleia e, no colo da mulher, só deseja registar o seu testamento. O hospital que fique para depois.

A sobrinha do realizador estuda cinema e tem um tpc para fazer. Uma curta-metragem distribuível segundo as regras fundamentais do cinema iraniano. Filma sempre e pede ao pequeno apanhador de lixo que devolva a moeda apanhada no chão ao seu dono. Seria um fim excelente para o seu trabalho: sacrifício e altruísmo! O miúdo não obedece.

A advogada dos presos políticos, incluindo do realizador, devolve-lhe o sorriso solidário e distribui rosas num acto de pura estética e benevolência política.

A verdade encenada é sempre mais verdadeira.

Dos mais belos filmes políticos de sempre!

jef, abril 2018
                                                                      
«Taxi» de Jafar Panahi. Irão, 2015, Cores, 82 min.    

Sem comentários:

Enviar um comentário