Esta é uma das comédias mais inteligentes do mundo.
Em Teerão, Irão, século XXI, um taxi mais ou menos
comunitário segue as ruas e os passageiros vão entrando aleatoriamente. Ou talvez
nem tanto. Neste filme não se sabe onde pára a realidade e começa a realidade
encenada. Mas o teatro vence sempre como símbolo máximo da verdade.
O taxista é o próprio realizador Jafar Panahi, preso político,
impedido de sair do Irão e de fazer cinema. Mas o taxista sorri! Sorri sempre e
conta como são as coisas no país e no mundo. Conta tudo com o humor que faz
realçar os factos mais importantes da vida em comum.
Um homem defende a pena de morte para os ladrões de carros dos
pobres. A professora defende a educação e a reintegração.
O pequeno homem aluga clandestinamente filmes ocidentais,
descobre o realizador, desmascara o cenário para o espectador. Com o realizador
a seu lado vende muito mais dvd.
As duas senhoras têm de devolver os dois peixinhos vermelhos
ao lago artificial até ao meio-dia. Impreterivelmente. O aquário escaqueira-se.
O motociclista sinistrado apanha boleia e, no colo da mulher,
só deseja registar o seu testamento. O hospital que fique para depois.
A sobrinha do realizador estuda cinema e tem um tpc para
fazer. Uma curta-metragem distribuível segundo as regras fundamentais do cinema
iraniano. Filma sempre e pede ao pequeno apanhador de lixo que devolva a moeda
apanhada no chão ao seu dono. Seria um fim excelente para o seu trabalho: sacrifício
e altruísmo! O miúdo não obedece.
A advogada dos presos políticos, incluindo do realizador, devolve-lhe
o sorriso solidário e distribui rosas num acto de pura estética e benevolência
política.
A verdade encenada é sempre mais verdadeira.
Dos mais belos filmes políticos de sempre!
jef, abril 2018
«Taxi» de Jafar Panahi. Irão, 2015, Cores, 82 min.
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