Sofrerá este filme de uma tripla incompatibilidade. Sem hipótese
de conciliação.
Por um lado, o modo como vai buscar textos fundamentais que, modernistas,
desafiaram a estrutura estética e ética da sociedade, envolvendo-os com uma
capa de mavioso colorido burguês com up-grade proletário e digital. O humor
poderá ser sempre revolucionário mas neste caso toca o risível.
Em segundo lugar, Cate Blachett é uma diva que merece o
tempo, a luz, a sobriedade e o génio de um Woody Allen, não a apressada
singeleza lírica e, por vezes, ridícula de Julian Rosefeldt.
Na terceira alínea, os belos cenários e os extravagantes
decores em que são situados os monólogos da agitação. Fazem perder o olhar,
levitar a imaginação, enlevar essa maravilhosa coisa que é entrar no cinema e
esquecermo-nos de nós e do mundo real, passando a ser aquele mesmo e por breves
instantes o nosso mundo real. E a música de Ben Lukas Boysen e Nils Frahm,
inteligente e sóbria. Um belo celofane que faz esquecer o que é um
Manifesto.
E, agora, dentro do meu cérebro como irei compatibilizar o
inconciliável? Terei de ir buscar os estetas revolucionários Méliès, Buñuel,
Kubrick, Pasolini, Bergman, Antonioni, Tarkovsky, Lynch, Roy Andersson ou Laurie Anderson, para reconciliar o
olhar com as sinapses e a minha compreensão cinéfila?
jef, abril 2018
Sem comentários:
Enviar um comentário