Estamos em Abril de 1945. Alemanha. O país está em cacos,
cercado a Leste e Oeste pelos aliados. No exército germânico as deserções são muitas
e os desertores são um novo alvo do estupor, brutalidade e, agora, no fim da
guerra, da desorientação nazi.
Os 20 minutos iniciais revelam todo o filme baseado na
verdade de um soldado desertor, Willi Herold de 19 anos, que encontra uma farda
imaculada de capitão e ao envergá-la descobre-se numa nova pele de liderança, numa
alma nova de sobrepoder e tirania. A fotografia de Florian Ballhaus é
extraordinária. A banda sonora e a música original de Martin Todsharow é inquietantemente
expressionista. A interpretação do actor Max Hubacher é à cinema mudo: vibrante
e intensa, digamos, esculpida.
O problema é que o filme fica exactamente por aí. A partir
daí cai numa sucessão de cenas de maus-tratos, fúrias e esgares, de violência gratuita,
que não sublinha a verdade que a história contém, nem valoriza os contornos
estéticos que deveria ter para dar substância ao horror de uma época sem
paralelo na história contemporânea.
E fazer ficção não é exactamente realizar um documentário
histórico. Necessitamos de enquadrar, não de extrapolar a mais dura realidade em
sequências risíveis ligadas aos efeitos especiais, à estrutura quase de comédia
de certas cenas que deveriam ser brutais emborasensíveis.
Sobre este mundo de trauma e morte, que jamais dever ser
esquecido, não seria admissível realizar um tal genérico final, onde a
companhia militar justiceira de Willi Herold, entra motorizada na actualidade
de uma cidade alemã para ir maltratar e saquear os transeuntes perplexos, em jeito de 'apanhados'.
Repito, na actualidade.
Quando se trata de acontecimentos tais, a estética e a ética devem
ser rainhas. Há que pensar e sentir duas vezes.
jef, abril 2018.
«O Capitão» (Der
Hauptmann) de Robert Schwentke. Com Max Hubacher, Milan Peschel,
Frederick Lau, Alexander Fehling, Bernd Hölscher, Waldemar Kobus, Britta
Hammelstein. Música: Martin Todsharow; Fotografia:
Florian Ballhaus. Portugal / Polónia / Alemanha / França, 2017, Cores, 118 min.
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