segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Sobre o livro «Epítome de Pecados e Tentações» de Mário de Carvalho, Porto Editora 2020











Parecem ser os contos um incisivo e mordaz sublinhado àquelas obras de Ovídio que dão pelo nome de «Amores» ou «Arte de Amar». Tudo nestas duas vem esclarecido, tudo naqueles onze parece ser um modo de, sorrindo, desdizer na mais pura narrativa os ditos compêndios com vinte séculos de existência.

Também este livro sugere um vaguíssimo ciclo, tal como Ovídio realizara antes: Um livro deles, um livro de ambos, um terceiro livro delas. Neste caso: a ‘Ronda’, os ‘Burgueses’, agora o ‘Epítome’… Vá lá, no conjunto, a reunião conciliatória! No presente volume, os textos têm o olhar da mulher vivida, sabida ou por saber, mas de férrea personalidade sobre as titubeações, a falácia, a puerilidade e a inoperância amorosa deles. São elas que, não mandando ou arrogando, aqui ditam.

São textos de uma versatilidade exegética única de um autor que olha a raio x os que tem à sua volta também de modo único. Transforma a realidade, os costumes e os tiques, num apuro ficcional deleitoso. Ou seja, resume o androceu lusitano num epítome de grácil sarcasmo, sagaz fleuma, recôndita ternura.

E se o último conto, «O auditor», vem isolado numa III secção será pela razão conclusiva de que é um texto que (me) ficará indelével na memória como um dos mais belos contos de Mário de Carvalho.


jef, agosto 2020

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