Parecem ser os contos um incisivo e mordaz sublinhado àquelas
obras de Ovídio que dão pelo nome de «Amores» ou «Arte de Amar». Tudo nestas duas
vem esclarecido, tudo naqueles onze parece ser um modo de, sorrindo, desdizer
na mais pura narrativa os ditos compêndios com vinte séculos de existência.
Também este livro sugere um vaguíssimo ciclo, tal como Ovídio
realizara antes: Um livro deles, um livro de ambos, um terceiro livro delas. Neste
caso: a ‘Ronda’, os ‘Burgueses’, agora o ‘Epítome’… Vá lá, no conjunto, a
reunião conciliatória! No presente volume, os textos têm o olhar
da mulher vivida, sabida ou por saber, mas de férrea personalidade sobre as titubeações,
a falácia, a puerilidade e a inoperância amorosa deles. São elas que, não
mandando ou arrogando, aqui ditam.
São textos de uma versatilidade exegética única de um autor que olha a raio x os que tem à sua volta também de modo único. Transforma
a realidade, os costumes e os tiques, num apuro ficcional deleitoso. Ou seja, resume
o androceu lusitano num epítome de grácil sarcasmo, sagaz fleuma, recôndita
ternura.
E se o último conto, «O auditor», vem isolado numa III secção
será pela razão conclusiva de que é um texto que (me) ficará indelével na
memória como um dos mais belos contos de Mário de Carvalho.
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