quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Sobre o livro «Requiem» de Antonio Tabucchi, Dom Quixote, 2007 (1991)

 







Decorridos vinte e nove anos, «Requiem» continua limpo, vigoroso, desavergonhado, acima de tudo, libertário. Aliás, a liberdade é talvez o símbolo, a essência, que subtrai o livro a qualquer data cultural. A liberdade linguística aqui assumida faz Tabucchi entrar no limbo universal dos escritores apátridas. A realidade “alucinada” apresenta-se firme, calma, racional, entregue de alma e corpo ao sonho e aos mortos. A vida morre e renasce numa contínua alegria pagã, concretizada em doze horas sufocantes e lisboetas, fazendo o espaço e o tempo coincidir e confundir-se logicamente. A topografia onírica da capital adquire um brilho difícil de encontrar no tórrido mês de Julho, através de uma narrativa que abraça a mais velha trama literária – a viagem delirante. Deste modo, com gosto reafirmamos, uma vez mais, que o autor de «Jogo do Reverso» é um dos mais lúcidos escritores contemporâneos da língua portuguesa. E se os livros são de quem os lê, o presente requiem ficará para sempre associado a José Cardoso Pires e aos pinheiros mansos que antes verdejavam em torno do Camões. O livro termina com a tradução de Pedro Tamen para o revelador texto “Um universo numa sílaba – vagabundagem à volta de um romance” (1999).

 jef, junho 2007

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