quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Sobre o filme «A Flor da Felicidade» de Jessica Hausner, 2019










Botanicamente, este filme é inesquecível e os criativos do título português deviam ter cumprir uma pausa para férias. «Little Joe» é o nome de uma planta criada em laboratório, transgénica, onde a “workaólica” Alice, a extraordinária actriz Emily Beecham, introduziu algum gene do R-vírus, para fornecer à planta maior capacidade odorífica, factor de felicidade para os humanos. Porém, os resultados ficam descontroladamente controlados.

Inesquecível também em termos musicais, com as composições «Running» e «Swimmer» de Teiji Ito que produzem o incisivo suspense cenográfico de um filme entre a ficção científica e o desvio comportamental, numa certa “nouvelle vague” austríaca. Sem esquecer a soberba canção pop «Happiness Business» de Markus Binder, no final!

As cores, os adereços e as flores polinizadoras mas estéreis; os cenários, as escadas e as paredes em ângulos milimétricos; o guarda-roupa, os olhares sincopados, a ambição controlada, o poder sobre os outros e os afectos densamente protegidos, fazem lembrar o rigor de Stanley Kubrick, ou o vazio arquitectónico de Michelangelo Antonioni, ou a misteriosa voracidade de Alfred Hitchcocck, ou a estratégia distópica de Ray Bradbury.

Será a felicidade um direito essencial, particular e colectivo, ou um dever imposto por infecção-obsessão pela sociedade de consumo? Este filme não lhe dará qualquer resposta.

jef, agosto 2020


«A Flor da Felicidade» (Little Joe) de Jessica Hausner. Com Emily Beecham, Ben Whishaw, Kerry Fox, Kit Connor, Phénix Brossard, Leanne Best, Andrew Rajan, David Wilmot, Goran Kostic. Argumento: Jessica Hausner, Géraldine Bajard. Fotografia: Martin Gschlacht. Direcção artística: Francesca Massariol, Conrad Reinhardt. Cenografia: Nicola Wake. Guarda-roupa: Tanja Hausner. Música: “Running” e “Swimmer” de Teiji Ito; “Happiness Business” de Markus Binder. Áustria, Grã-Bretanha, Alemanha, 2019, Cores, 105 min.


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