Sob a penumbra luminosa da casa-padaria da viúva Abla (Lubna
Azabal) e da sua pequena filha Warda (Douae Belkhaouda) vem instalar-se Samia (Nisrin Erradi),
grávida e sem tecto para ficar em Casablanca. A história é muito fácil de
contar não fora os portentosos silêncios e olhares trocados entre as duas
mulheres. A pequena Warda é o contraponto de ignição, o discreto e apaixonado
fornecedor Silmani (Aziz Hattab), o contraponto do afecto masculino.
Entre as cores densas, pastel e saturadas, vindas de um
renascimento realista e flamengo, assenta o entendimento feminino na discreta cumplicidade
moral. Este é um filme que tinha tudo para ser lamechas, mas não é! Tudo para
ser feminista, mas não é? Tudo para ser dogmaticamente político, chauvinista
até, mas não é? Apenas demonstra a realidade comum (e universal) do ser complexo
feminino (e maternal), um ser que, de certo modo, faz parte integrante de todos
nós.
Pode dizer-se que é um belíssimo filme, terno e ecuménico, que
terá o difícil mérito de reunir o aplauso dos críticos e do público, caso este
resolva tirar as pantufas do covid e ir até ao cinema contemplar a Metade do Céu.
jef, agosto 2020
«Adam» de Maryam Touzani. Com Lubna Azabal, Nisrin Erradi, Douae Belkhaouda, Aziz
Hattab, Hasnaa Tamtaoui. Fotografia: Virginie Surdej. Marrocos, Bélgica /
França, 2019, Cores, 100 min.
Sem comentários:
Enviar um comentário