sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Sobre o filme «Adam» de Maryam Touzani, 2019

















Sob a penumbra luminosa da casa-padaria da viúva Abla (Lubna Azabal) e da sua pequena filha Warda (Douae Belkhaouda) vem instalar-se Samia (Nisrin Erradi), grávida e sem tecto para ficar em Casablanca. A história é muito fácil de contar não fora os portentosos silêncios e olhares trocados entre as duas mulheres. A pequena Warda é o contraponto de ignição, o discreto e apaixonado fornecedor Silmani (Aziz Hattab), o contraponto do afecto masculino.

Entre as cores densas, pastel e saturadas, vindas de um renascimento realista e flamengo, assenta o entendimento feminino na discreta cumplicidade moral. Este é um filme que tinha tudo para ser lamechas, mas não é! Tudo para ser feminista, mas não é? Tudo para ser dogmaticamente político, chauvinista até, mas não é? Apenas demonstra a realidade comum (e universal) do ser complexo feminino (e maternal), um ser que, de certo modo, faz parte integrante de todos nós.

Pode dizer-se que é um belíssimo filme, terno e ecuménico, que terá o difícil mérito de reunir o aplauso dos críticos e do público, caso este resolva tirar as pantufas do covid e ir até ao cinema contemplar a Metade do Céu.


jef, agosto 2020


«Adam» de Maryam Touzani. Com Lubna Azabal, Nisrin Erradi, Douae Belkhaouda, Aziz Hattab, Hasnaa Tamtaoui. Fotografia: Virginie Surdej. Marrocos, Bélgica / França, 2019, Cores, 100 min.

 

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