O filme começa com uma tela do pintor Pello Asketa onde se vêem
duas crianças a espreitar para o fundo de um pântano. Buscam algo que lá se
afundou ou esperam ver surgir alguma coisa. Assim também parte a realizadora para
a aldeia dos seus pais e antepassados. Aldealseñor, Soria. 14 habitantes.
Perante uma réplica de triceratops, uma senhora mostra as
pegadas e o túmulo de um pequeno
dinossauro marcado na pedreira. Antes do Dilúvio. Um padeiro pode vir na
segunda-feira. No palácio construído por escravos passeia o espírito de uma
menina que não sabe rir. No cemitério recolhem-se a alma dos que ficam e a
podridão dos que partem. Os castros dos celtibéricos, os povos que fugiram para
Numancia, um dólmen, as terras dos romanos, os árabes. A morte do republicado
de Magaña às mãos dos franquistas. Bush, Sadam e as armas; a chegada das eólicas
e o palácio que vai ser transformado em hotel. Uma campanha eleitoral que
perturba o sono e a oração. A eterna transformação sobre o silêncio da
ausência. A morte do tio Eliseo. Um ulmeiro gigante que definha e retém, entre
as raízes, caveiras humanas.
O pintor regressa mas está quase cego. Tacteia o ulmeiro seco,
como tacteia a luz e as pinceladas impressionistas sobre as linhas a carvão
sobre, talvez, a sua derradeira tela. Afinal, a morte é um regresso organizado com
ajustes meticulosos contra o tempo, diz a realizadora. Mesmo a de uma aldeia
deserta mas paciente que aguarda esse tempo.
jef, abril 2020
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