Faber, o incógnito literato, talvez mais velho do que
cobarde, explica às escondidas a Guy Montag como se processam os livros (e a
democracia!). Três passos fundamentais: (1) a qualidade porosa dos livros e a
rede dos conhecimentos; (2) o repouso e o tempo para pensar e assimilar; por
último (3) o direito de realizar actos baseados no que é ensinado pela ligação
de (1) e (2). Como exemplo, dá o de Héracles que venceu o gigantesco Anteu,
monstro “invencível” que morava pelas bandas do mediterrâneo ocidental,
bastando para tal tirar-lhe os pés da Terra.
Montag, que é tocado pelos inspiradores passeios da jovem
vizinha Clarisse, afinal, sonega, ele próprio, livros à salamandra incineradora
dos bombeiros e esconde-os atrás da grelha de ventilação. Salva um deles, a
Bíblia, e recebe a incumbência de proteger a memória do antigo livro do
Eclesiastes, o livro da sabedoria e da união. Terá de o fazer, em fuga, contra
o furor letal do cão-polícia-mecânico, o vôo iluminado dos helicópteros, a
derradeira guerra instantânea.
jef, abril 2020
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