terça-feira, 14 de abril de 2020

Sobre o livro «Fahrenheit 451» de Ray Bradbury, 1953, tradução de Mário Henrique Leiria (1956). Público – Colecção Mil Folhas, 2003




Faber, o incógnito literato, talvez mais velho do que cobarde, explica às escondidas a Guy Montag como se processam os livros (e a democracia!). Três passos fundamentais: (1) a qualidade porosa dos livros e a rede dos conhecimentos; (2) o repouso e o tempo para pensar e assimilar; por último (3) o direito de realizar actos baseados no que é ensinado pela ligação de (1) e (2). Como exemplo, dá o de Héracles que venceu o gigantesco Anteu, monstro “invencível” que morava pelas bandas do mediterrâneo ocidental, bastando para tal tirar-lhe os pés da Terra.

Montag, que é tocado pelos inspiradores passeios da jovem vizinha Clarisse, afinal, sonega, ele próprio, livros à salamandra incineradora dos bombeiros e esconde-os atrás da grelha de ventilação. Salva um deles, a Bíblia, e recebe a incumbência de proteger a memória do antigo livro do Eclesiastes, o livro da sabedoria e da união. Terá de o fazer, em fuga, contra o furor letal do cão-polícia-mecânico, o vôo iluminado dos helicópteros, a derradeira guerra instantânea.

Um livro poético. Um livro presente. Um livro principal.

jef, abril 2020

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