sábado, 11 de abril de 2020

Sobre o disco «Paixão Segundo São Mateus, BWV 244» de Johann Sebastian Bach / Gustav Leonhardt, Deutsche Harmonia Mundi, 1990.













«Erbarme dich,
Mein Gott, um meiner Zähren willen!
Schaue hier,
Herz und Auge weint vor dir
Bitterlich.»

(A voz roga a Deus por piedade. Tem os olhos e o coração em lágrimas. Pedro já terá negado jesus mas Judas ainda não se aproximou do templo nem Pilatos tomou a sua decisão, de mãos lavadas.)

A ária é uma das mais belas canções do mundo e encontra-se no interior de uma das obras de arte que melhor define (ou estrutura) a palavra humanidade. Não suspeitaria J.S. Bach, quando a compôs lá pelo ano de 1727, que Gustav Leonhardt, séculos depois, viesse a construir um monumento sobre o seu inicial monumento, ao dirigir a orquestra La Petite Bande, o coro Tölzer Knabenchor e os solistas masculinos: Christoph Prégardien (tenor, Evangelista), Max van Egmond (baixo, Jesus Cristo), René Jacobs (contralto), Marcus Schäfer (tenor), Klaus Mertens (baixo), David Cordier (contralto), John Elwes (tenor), Peter Lika (baixo), Christian Fliegner (soprano) e Maximilian Kiener (soprano).

É imprescindível nomear os cantores pois constroem, juntamente com os coros e a orquestra, sob a régia maestria de Gustav Leonhardt (1928-2012), a mais emocional e íntima das versões desta partitura. Uma interpretação que entrega esse mais elevado espírito artístico ao absoluto, talvez abstracto, e agora pode dizer-se confinado, prazer musical de quem agora o ouve.

Um dos discos que me mostrrou a dimensão real do mundo em que os meus pés assentam.

jef, abril 2020

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