sábado, 30 de maio de 2020

Sobre o livro «A Condição Humana» de André Malraux. Livros do Brasil, 1958 (?) (1933). Tradução e prefácio de Jorge de Sena. Capa de Bernardo Marques.











O livro situa-se, principalmente, na cidade de Xangai, entre a meia-noite e meia-hora do dia 21 de Março de 1927 e as horas que se seguem ao início do dia 11 de Abril. Até chegar Julho a Paris e a Kobe, no Japão.

O livro contém, como num livro de atendimento espiritual, tudo o que significa o impulso humano, tudo o que move a resolução consciente de uma ideia nova para a sociedade, do motivo para a sua radical alteração, digamos “revolução”. Mas também esse modo tão definitivo do ser solitário na decisão maior do ser solidário, como motor (em comum) que transporta uma cidade para o seu futuro mas deixa no indivíduo a carga máxima da responsabilidade e do silêncio. Lembrei-me muito dessa esperança desesperançosa que senti quando vi por duas ou três vezes o espectáculo de José Mário Branco «Ser Solitário / Ser Solidário», no Teatro Aberto. Lembrei-me igualmente desse transtorno emocional provocado pela revolta que a literatura deixa no interior do leitor, como quando li «Os Subterrâneos da Liberdade» de Jorge Amado ou «Levantado do Chão» de José Saramago.

E não falo de neo-realismo. Falo mesmo da consciência absoluta de que o caminho da solidão é absoluto, irrevogável, irreversível, e de que, no final, esbarra no grosso muro do esquecimento e da morte.

Contudo, e porque este livro é uma extraordinária obra-prima, não terminaria sem advogar que a ternura (muito mais do que o amor) é, apesar da consciência, da solidão e da morte, a trave-mestra do frágil edifício, íntimo ou colectivo, dentro do qual se instala a condição humana.


jef, maio 2020

 


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