O livro situa-se, principalmente, na cidade de Xangai, entre a meia-noite e meia-hora do dia 21 de Março de 1927 e as horas que se seguem ao início do dia 11 de Abril. Até chegar Julho a Paris e a Kobe, no Japão.
O livro contém, como num livro de atendimento espiritual,
tudo o que significa o impulso humano, tudo o que move a resolução consciente
de uma ideia nova para a sociedade, do motivo para a sua radical alteração,
digamos “revolução”. Mas também esse modo tão definitivo do ser solitário na
decisão maior do ser solidário, como motor (em comum) que transporta uma cidade
para o seu futuro mas deixa no indivíduo a carga máxima da responsabilidade e do silêncio. Lembrei-me muito dessa esperança desesperançosa que senti
quando vi por duas ou três vezes o espectáculo de José Mário Branco «Ser
Solitário / Ser Solidário», no Teatro Aberto. Lembrei-me igualmente desse transtorno emocional
provocado pela revolta que a literatura deixa no interior do leitor, como
quando li «Os Subterrâneos da Liberdade» de Jorge Amado ou «Levantado do Chão»
de José Saramago.
E não falo de neo-realismo. Falo mesmo da consciência
absoluta de que o caminho da solidão é absoluto, irrevogável, irreversível, e
de que, no final, esbarra no grosso muro do esquecimento e da morte.
Contudo, e porque este livro é uma extraordinária obra-prima,
não terminaria sem advogar que a ternura (muito mais do que o amor) é,
apesar da consciência, da solidão e da morte, a trave-mestra do frágil edifício,
íntimo ou colectivo, dentro do qual se instala a condição humana.
jef, maio 2020
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