A Teresa tem queda para os doces
A Teresa tem muita queda para as compotas. Reflicto melhor, a
Teresa é uma rapariga que gosta de ir até ao fogão e, com cuidado, ver o ponto
de açúcar dos seus doces. Conhece muito bem a curiosa ligação que existe entre
a fruta e o açúcar, ligação natural, de cheiros coloridos, que tanto atrai os
insectos e os pássaros, ladrões que antes já polinizaram o que agora tomam como
seu.
Sabe que são fundamentais as voltas da colher de pau sobre a
massa informe, escaldante, borbulhosa, não vá pegar e desfazer esse outro
instante futuro em que ela pensa “Está pronto!” e apaga o lume. Um instante
único e tão precioso como o instinto de reconhecer a exactidão do ponto açucarado
sobre os marmelos, os alperces, os pêssegos, os morangos, as amoras. Um
instinto, uma espécie de amor, melhor dizendo, uma ternura que faz com que insectos
e pássaros saibam sem saber que já principiou a época frutuosa do açúcar.
Teresa sente o mesmo instinto que inicia a época dos dias
longos e ensolarados e que, mal arrefeçam os frascos, devidamente etiquetados
com o nome da fruta e o ano correspondentes, a faz pensar nessa dádiva
ternurenta que os outros confiarão depois a uma torrada em luminosa manhã de
Verão.
jef, maio 2020
* perífrases e quarentena
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