As abelhas bem que apreciam a companhia do Aparício
As abelhas gostam de ter o Aparício por perto. Quero dizer, o
Aparício é um rapaz que estima esse labor permanente e hexagonal das asas e do
querer sem quererem das abelhas. Elas são assim, ele assim é. A pedra onde o
avô, logo depois o pai, se sentavam, lá está para ele também ficar a contemplar
o voo fisgado dos insectos. A geologia das pedras é tão antiga quanto a cera
macia a opercular os favos. Guardam os ovos, aguardam as larvas, indistintas, o
momento da fecunda proteína identificadora. Geleia real. Depois, a próxima
rainha sairá impante levando atrás de si a duplicação do enxame.
O Aparício questiona-se se receberá os novos habitantes
desdobrando a colmeia. Sabe que o tempo passa sem passar, pela Aboboreira, por
Mação, sobre a pedra do avô e do pai, dele. Mas desconhece se o tempo que não
passou, incendiará este Verão o néctar e o pólen da floresta. Pensa na varroa
parasitando as pupas das abelhas, na vespa velutina, grande e carnívora,
apavorando as trabalhadoras que hesitam em sair da régua da colmeia. O Aparício
hesita também sobre o tempo que, nesse instante, cristalizou no silêncio voador
dos zumbidos.
Tudo depois recomeçará, ele sabe. O calor dentro do escafandro
branco, não vá uma das amigas deixar definitivamente de o ser. A cresta, o mel
nos frascos, os amigos. A memória e a eternidade futura das abelhas. O Aparício sabe
que tudo tem mesmo de recomeçar.
jef, maio 2020
* perífrases e quarentena
Belo texto. Saboroso como o néctar fabricado pelos animaizinhos referidos no título. O desenho que ilustra,não sabemos o autor, também está maravilhoso, claro e transparente como o viscoso fluido por elas produzido.
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