A Gabriela vai ao café
A Gabriela gosta muito de ir ao café. Quero dizer, a Gabriela
é uma rapariga que sente que um dos lugares que melhor a acolhe é esse onde
está presente com os outros mas sem prescindir do alegre sossego de tomar uma
bica normal, nem curta nem cheia, acompanhada de um belo pastel de nata. O café.
Estar, assim, só sem estar só, à frente do movimento das conversas, da direcção
dos olhares, do cheiro dos bolos, do entrar de quem depois sai cumprimentando o
empregado com uma graça sem grande graça mas tomada pelo afecto do convívio.
À Gabriela sabe-lhe bem o caminho que a traz de casa à mesa
do café, a viagem de comboio sobre o rio de larga foz e margens próximas. Conforta-a
o burburinho das ruas paralelas aos carris do eléctrico, chiando. Ruas luminosas
de Verão, por vezes chuvosas e brilhantes, que fazem molhados os vidros dos
autocarros. Ruas que dirigem o som dos sinos nas igrejas da baixa e dos
concertos em desconcerto de quem toca para os turistas, para os distraídos.
A Gabriela gosta desse eco sem som que se prende às paredes e
que fica suspenso nos candeeiros que já se acendem, formando sombras distintas e
reflexos engraçados, e também nostálgicos, no caminho de volta a casa. Quem lhe
dera a cidade!
jef, maio 2020
* perífrases e quarentena
* perífrases e quarentena
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