sábado, 16 de maio de 2020

A Gabriela vai ao café















A Gabriela vai ao café

A Gabriela gosta muito de ir ao café. Quero dizer, a Gabriela é uma rapariga que sente que um dos lugares que melhor a acolhe é esse onde está presente com os outros mas sem prescindir do alegre sossego de tomar uma bica normal, nem curta nem cheia, acompanhada de um belo pastel de nata. O café. Estar, assim, só sem estar só, à frente do movimento das conversas, da direcção dos olhares, do cheiro dos bolos, do entrar de quem depois sai cumprimentando o empregado com uma graça sem grande graça mas tomada pelo afecto do convívio.

À Gabriela sabe-lhe bem o caminho que a traz de casa à mesa do café, a viagem de comboio sobre o rio de larga foz e margens próximas. Conforta-a o burburinho das ruas paralelas aos carris do eléctrico, chiando. Ruas luminosas de Verão, por vezes chuvosas e brilhantes, que fazem molhados os vidros dos autocarros. Ruas que dirigem o som dos sinos nas igrejas da baixa e dos concertos em desconcerto de quem toca para os turistas, para os distraídos.

A Gabriela gosta desse eco sem som que se prende às paredes e que fica suspenso nos candeeiros que já se acendem, formando sombras distintas e reflexos engraçados, e também nostálgicos, no caminho de volta a casa. Quem lhe dera a cidade!

jef, maio 2020

* perífrases e quarentena

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