quinta-feira, 21 de maio de 2020

Carrasco-arbóreo Quercus rivasmartinezii J. Capelo & J.C. Costa



 as fotografias são do querido amigo Jorge Capelo









Carrasco-arbóreo, carrasco da Arrábida Quercus rivasmartinezii (J. Capelo & J.C. Costa) J. Capelo & J.C. Costa
Família Fagaceae

O endemismo português gosta do calor, é termófilo, e não desdenha os solos calcários provenientes de estratos dolomíticos, também solos profundos sobre xistos e antigas dunas. Acompanha, entre loureiros, medronheiros, alfarrobeiras, lentiscos, camarinhas e aroeiras, as paisagens mediterrânicas debruçadas sobre o Atlântico. Tem um tronco único e direito coberto por um ritidoma escuro e fendido em pequenas placas. A copa é arredondada, formada de pequenas folhas até 10 cm, persistentes e glabras nas duas páginas, verde vivo, com um contorno ligeiramente dentado e espinhoso e um grande número de nervuras. As flores são amentilhos e o fruto, a glande, é fusiforme e comprido, envolvido por uma taça suportada por um pedúnculo lenhoso, coberta por escamas um pouco levantadas, triangular-lanceoladas.

Anteriormente, permanecia indistinto entre bosques e matos habitados por um outro carrasco, aquele seu parente muito próximo nomeado por Lineu como Quercus coccifera. Parecido, sim, mas tomando progressivamente, sob o olhar comparativo e colecionista dos botânicos, características díspares daquele, ocupando núcleos específicos entre a área mais vasta do primeiro. A serra da Arrábida. Ali, era mesmo uma árvore, distinta do outro carrasco, de tronco firme e fendilhado, bolota mais oblonga com escamas ainda mais eriçadas, as nervuras nas folhas sobressaíam… Assim, esses filatelistas classificadores da Nova Flora foram-se aproximando de uma entidade diferente, primeiro como Quercus coccifera L. subsp. rivasmartinezii J. Capelo & J.C. Costa (2001), mais tarde, assumindo já a nomenclatura específica como “carrasco de Rivas Martínez”, em 2005. As análises genéticas (a que Lineu ainda não podia deitar mão) confirmaram a nova espécie das encostas da Arrábida. Com o seu nome, os novos classificadores dirigiram a atenção dos amantes do universo vegetal para o decano fito-sociólogo Salvador Rivas Martínez, nascido em Madrid em 1935, conhecedor profundo das comunidades vegetais de uma Península Ibérica que percorreu de lés-a-lés. Especialmente, um andarilho de bosques regidos pelos tão distintos carvalhos.

Deste modo, a serra da Arrábida acolheu, neste século, uma nova espécie de árvore que foi reconhecida também em Pataias, junto da Mata Nacional de Leiria, e ainda na área olissiponense, nas serras de Grândola e no Sudoeste Alentejano.

jef, maio 2020


* botânica

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