A Sofia olha para as árvores
A Sofia gosta de olhar para as árvores. Não será bem assim,
recomeço... A Sofia é uma rapariga que gosta de olhar pela janela e calcular a
hora do dia quando este se reflecte nas folhas das árvores. Ou nos seus
troncos, caso o Inverno já estiver a chegar pois as árvores são de
folha caduca. Um renque de plátanos e, no fim do passeio, um choupo de folhas
verdes e lustrosas, dessas, trementes, que o vento tenta afugentar.
Um dia vieram cortar o choupo deixando a Sofia mais pensativa
que pesarosa. Aquela árvore, por ser única, era melhor relógio que os plátanos,
espalhafatosos, impantes de tanto folhame, muito cascudos. Preferia que o Verão
e o Inverno passassem pela ramaria singela do choupo do que constatá-los, agora, naquele vazio ofuscante. Pensava como seriam as estações se não
existissem árvores e o olhar que sobre elas recaem, fazendo-as existir.
Mas certa manhã chegaram uns senhores de colete luminoso numa
camioneta de caixa aberta, pá, sacos de terra e boa vontade, e plantaram um novo
choupo, pequenino, no enorme espaço incompleto. Mas seria mesmo um choupo? Cá
de cima não se via bem... A dúvida pouco a atormentou. Sofia foi buscar os
óculos escuros, penteou-se, colocou um lenço colorido na cabeça e lançou uma
azeitona verde sobre o martini bianco. Abriu então a janela para que a brisa
entrasse em casa e sorriu. Agora sim, os anos podiam continuar a passar pelas
folhas de longos pecíolos, muito verdes, lustrosas e, de novo, trementes.
jef, março 2020
* Perífrases e quarentena
* Perífrases e quarentena
Muito bom.Faz-me lembrar o conto de Jean Giono.
ResponderEliminarMuito Obrigado "mano" Ceia! Que se protejam e sejam muito felizes!
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